E a mudança um dia chega

Dia 23 de outubro de 2006. Era uma segunda-feira. Acordei, comi pão integral, queijo branco e peito de peru, com café e adoçante. Almocei salada, grelhado e aboli os refrigerantes. À tarde, me troquei (camiseta tamanho GG, tênis empoeirado e com anos de férias acumuladas), fui fazer minha matrícula na academia, aqui perto da minha casa.
Nada em especial, pelo fato de tudo isso, ser o primeiro, de vários dias que estavam por vir da mudança total da minha vida.
Estava animada. Um primeiro passo de uma caminhada looooonga.
Sempre fui gordinha. Nasci com 4kg e alguns gramas. Passei toda a infância sendo a maior da turma e, para uma criança, isso nem sempre é aceitável para a mentalidade infantil, por isso, fiquei complexada ao extremo. Só usava roupas largas, fiquei corcunda para não aparecer muito (sorte que também sempre fui alta), nunca usei biquíni e me achava feia, muito feia.
Lembro que, meu maior trauma era as pessoas chegarem e espantosas dizerem: "Nossa!! Que menina linda! O rosto é perfeito!" Invocada, como sempre fui, era ouvir isso para eu mentalmente completar "lógico, porque o corpo e o resto são horríveis".
Sempre tive certeza que eu não estava bem comigo mesma mas, mesmo assim, nunca fiz nada para mudar isso. Até cheguei a brigar com algumas pessoas (oO), porque eu não conseguia enxergar como conselho, sugestão, pois pra mim, as pessoas deveriam ser aceitas como elas são. Síntese globalizada, verdadeira, a não ser pelo fato que eu, NÃO estava feliz comigo mesma. Quem poderia então ficar? Infelizmente, me acomodei. Às vezes fazia dietas, caminhava cinco minutos numa esteira que servia de cabide aqui em casa...mas nada concreto, tudo sempre no vácuo. Principalmente, eu mesma. Era tristonha, desanimada...mas tudo bem. Sempre comia um chocolate para me dar ânimo, um pote de sorvete para esquecer a depressão ou um Big Mc para variar o cardápio, sempre vasto de calorias.
Minha sensação era como a de ter um capuz, impedindo a visão lateral e me fazendo olhar sempre pra baixo, cuidando para não tropeçar sendo que minha própria vida já era um tropeço, por minha culpa.
Tarde, mas não falho, chega dia 23 de outubro. Eu sabia. Ali, estava pronta para uma nova etapa, uma longa, mas não impossível, caminhada. Estava radiante. :]